Pois é sou professor. Chegou o momento de dizer alguma coisa do que sinto sobre o muito que se passa nas nossas escolas.
A srª Ministra Maria de Lurdes Rodrigues disse que o seu pior dia não foi o da grandiosa manifestação de 120 mil professores nas ruas de Lisboa. Dei comigo a pensar que precisamente alguns dias depois, passei eu o pior dia na minha carreira de vinte e cinco anos como professor: O dia em que me pediram para dizer qual era o objectivo que tinha para o sucesso dos meus alunos.
Qual o objectivo de qualquer professor quando entra numa sala de aula? Por mais problemas, por mais dificuldades que os alunos tenham, por piores que sejam as condições de uma escola...o seu objectivo terá de ser sempre CEM POR CENTO DE SUCESSO. Quando uma escola admite como sua meta outro valor que não 100% de sucesso , desce ao nível da fábrica e demite-se da sua condição. Não fabrico automóveis, não produzo mobília, luto e lutarei por ultrapassar as dificuldades de TODOS os meus alunos : dos que trabalham muito e dos que não trabalham nada, dos que querem aprender e dos que ainda não querem, dos que têm bons encarregados de educação e dos que os têm só de nome, dos ricos e que se alimentam bem e dos pobres que chegam sem pequeno-almoço. Para todos o objectivo é o mesmo - o sucesso (mas primeiro a felicidade).
Assim, senhora ministra da educação de um governo português, trinta e quatro anos depois do 25 de Abril, lhe digo: o meu pior dia como professor foi aquele em que, cobardemente, não respondi 100% à estúpida pergunta: "Qual é o seu objectivo para o sucesso escolar dos seus alunos neste ano lectivo?".
Triste a Escola em que estamos! A escola que num início de um ano lectivo consegue dizer que tem como META fazer passar de ano, qualquer coisa diferente de 100% dos seus alunos...
Para todos os meus alunos...aqui fica o meu pedido sincero de desculpas.
Para si, que mais tarde ou mais cedo irá embora, enquanto eu permanecerei como docente, fique com a certeza que contribuiu para os piores dias da educação em Portugal nos últimos anos, e para a saída extemporânea de muitos e bons docentes, que se reformaram, e cuja experiência muita falta fará às escolas portuguesas.
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